terça-feira, 24 de novembro de 2009

Com fim de programa, Oprah Winfrey quer sair por cima


  Foto: Getty Images

Oprah Winfrey causou um momento de lamentação à audiência de seu programa na sexta-feira (20) ao anunciar, com voz embargada, que, depois de um quarto de século "na estrada de benções que me levou a vocês", o "Oprah Winfrey Show" sairia de cartaz em setembro de 2011.
O fato de que essa notícia tenha merecido atenção da mídia prova a estatura de Winfrey -que não vai encerrar o programa ainda e tampouco pretende deixar a televisão, já que em 2011 sua nova empreitada no segmento de TV a cabo, a OWN (Oprah Winfrey Network) deve estar em atividade.
Mas a lamentação surgiu logo que a notícia foi divulgada. E as realizações de Oprah são tantas (o programa, o clube do livro, a indicação ao Oscar, a revista, a filantropia, a campanha de Obama, as viagens com Gayle) que às vezes fica difícil lembrar algo que ela não tenha feito.
Essa não é a primeira ocasião em que Winfrey decide encerrar uma operação enquanto ainda está por cima. Ela se tornou uma estrela, e bilionária, ao dizer sim às oportunidades, mas parte de seu talento reside em sua disposição de dizer não.
Winfrey gosta de mudar de rumo, e em seus raros maus momentos opta por cortar os prejuízos o mais cedo possível. (Seu programa filantrópico na rede ABC de televisão, The Big Give, não fez grande sucesso, e foi cancelado depois de uma temporada.)
Ela também protege sua marca. A entrevista de Winfrey com Michael Jackson em 1993 foi classificada como a mais assistida de todos os tempos; mas ela não compareceu ao funeral de Jackson, meses atrás, porque, como explicou aos telespectadores, não era tão amiga dele. (Durante a cerimônia, a jornalista Barbara Walters ficou sentada em companhia da família de Jackson.)
Winfrey começou a apresentar um programa de entrevistas em Chicago, nos anos 80, quando Phil Donahue reinava na TV diurna. Ele perdeu audiência - e o rumo - ao tentar imitar o estilo trash de Jerry Springer. Já Winfrey prosperou com sua mistura única de autoajuda espiritual e tino comercial, e em 1996 criou um clube do livro que transformou a indústria editorial. E em 2002, quando estava cansada de cuidar da seleção mensal de novos autores, ela suspendeu o clube e, um ano mais tarde, o retomou em escala mais modesta, divulgando escritores como Faulkner e Tolstói. (Mesmo no mundo de Oprah, às vezes as boas ações acarretam problemas: depois que ela retomou o formato original do clube, em 2005, uma de suas seleções, A Million Little Pieces, resultou em controvérsia depois que o autor do livro, James Frey, admitiu ter inventado algumas cenas cruciais da suposta autobiografia. Winfrey transformou a indignação em audiência, confrontando Frey em um programa ao vivo.)
Em meio aos triunfos -apresentadores como Rachel Ray, Dr. Phil e Dr. Oz começaram em seu programa e se transformaram em sucessos-, também houve revezes. A revista Newsweek publicou uma reportagem de capa sobre Winfrey em junho acusando-a de oferecer credibilidade em seu programa a adeptos extremistas de medicina alternativa, como Suzanne Somers. Na temporada passada, seus índices de audiência despencaram.
Mas este ano ela se recuperou com folga, oferecendo entrevistas confessionais com Whitney Houston e Mackenzie Phillips, e um programa especial dedicado a Sarah Palin, que iniciou a divulgação de seu livro com uma entrevista a Winfrey na segunda-feira.
Na sexta-feira (20), a apresentadora disse que sentia "nos ossos e no espírito" que deveria pôr fim ao programa de entrevistas. Em suas palavras, "o programa vem sendo tudo para mim, e eu o amo o bastante para saber a hora de dizer adeus".
Também é possível que ela saiba por experiência que dirigir uma rede de TV a cabo não é tarefa que se possa realizar em tempo parcial. Ela foi uma das proponentes e investidores da Oxygen, uma rede de cabo de programação inteligente, com programas inspiradores e aulas de ioga, mas o modelo não funcionou muito bem.
Winfrey em seguida criou a revista O com a editora Hearst, e enquanto isso a Oxygen foi adquirida pela NBC Universal e encontrou o sucesso com programas decididamente popularescos, como Tori & Dean e Dance Your Ass Off.
Winfrey gosta de misturar o místico ao prático -ela disse que vai sair ao final da 25ª temporada porque é um número perfeito; mas também é a data em que expira o seu contrato com a rede CBS, a distribuidora do programa. A apresentadora encontrou o sucesso ao misturar filantropia e materialismo tosco (carros dados de presente aos espectadores), exploração desabrida e boas ações.
O programa de sexta-feira (20) serviu como exemplo. Em uma dinâmica hora, ela entrevistou o choroso pai de Shaniya Davis, 5, que foi estuprada e morta depois que a mãe supostamente a vendeu, mas também o comediante Ray Romano, que está lançando uma nova série, e a atriz Gabourey Sidibe. Depois disso, ela fechou com um discurso choroso, mas também prometeu aos espectadores que, ao longo dos próximos meses, o programa iria "deslumbrá-los".
Foi um momento clássico de Winfrey -ela anunciou sua partida, mas ao mesmo tempo insistiu junto aos fãs que não a deixassem.

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